Ele era um garoto triste.
Procurava estudar muito. Na hora do recreio ficava afastado dos colegas, como
se estivesse procurando alguma coisa.
Todos os outros meninos zombavam
dele, por causa das suas meias vermelhas.
Um dia, o
cercaram e lhe perguntaram por que ele só usava meias vermelhas. Ele falou, com
simplicidade: No ano passado,
quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo.
Colocou
em mim essas meias vermelhas. Eu reclamei. Comecei a chorar. Disse que todo
mundo iria rir de mim, por causa das meias vermelhas.
Mas
ela disse que tinha um motivo muito forte para me colocar as meias vermelhas.
Disse que se eu me perdesse, bastaria ela olhar para o chão e quando visse um
menino de meias vermelhas, saberia que o filho era dela.
Ora, disseram os garotos, mas você não está num circo. Por que não tira
essas meias vermelhas e as joga fora?
O menino
das meias vermelhas olhou para os próprios pés, talvez para disfarçar o olhar
lacrimoso e explicou: É que a
minha mãe abandonou a nossa casa e foi embora. Por isso, eu continuo usando
essas meias vermelhas. Quando ela passar por mim, em qualquer lugar em que eu
esteja, ela vai me encontrar e me levará com ela.
*
* *
Muitas almas existem, na Terra,
solitárias e tristes, chorando um amor que se foi. Colocam meias vermelhas, na
expectativa de que alguém as identifique, em meio à multidão, e as leve para a
intimidade do próprio coração.
São crianças, cujos pais as
deixaram, um dia, em braços alheios, enquanto eles mesmos se lançaram à procura
de tesouros, nem sempre reais.
Lesadas em sua afetividade, vivem
cada dia à espera do retorno dos amores, ou de alguém que lhes chegue e as
aconchegue.
Têm sede de carinho e fome de
afeto. Trazem o olhar triste de quem se encontra sozinho e anseia por ternura.
São idosos recolhidos a lares e
asilos, às dezenas. Ficam sentados em suas cadeiras, tomando sol, as pernas
estendidas, aguardando que alguém identifique as meias vermelhas.
Aguardam gestos de carinho,
atenções pequenas. Marcam no calendário, para não se perderem, a data da
próxima visita, do aniversário, da festividade especial.
Aguardam...
São homens e mulheres que se
levantam todos os dias, saem de casa, andam pelas ruas, sempre à espera de que
alguém que partiu, retorne.
Que o filho que tomou o rumo do
mundo e não mais escreveu, nem deu notícia alguma, volte ao lar.
São namorados, noivos, esposos
que viram o outro sair de casa, um dia, e esperam o retorno.
Almas solitárias. Lesadas na
afetividade. Carentes.
* * *
O amor, sem dúvida, é lei da
vida. Ninguém no mundo pode medir a resistência de um coração quando abandonado
por outro.
E nem pode aquilatar da qualidade
das reações que virão daqueles que emurchecem aos poucos, na dor da afeição
incompreendida.
Todos devemos respeito uns aos
outros. Somos responsáveis pelos que cativamos ou nos confiam seus corações.
Se alguém estiver usando meias
vermelhas, por nossa causa, pensemos se este não é o momento de recompor o que
se encontra destroçado, trabalhando a terra do nosso coração.
Pensemos nisso!
Redação do Momento Espírita, com base em crônica de
Carlos Heitor Cony, da agenda Renascer 2004 e no cap. 31,
do livro Momentos de ouro, por Espíritos diversos, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. GEEM.
Em 20.8.2015.
Carlos Heitor Cony, da agenda Renascer 2004 e no cap. 31,
do livro Momentos de ouro, por Espíritos diversos, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. GEEM.
Em 20.8.2015.
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