PRIMEIRO DE AGOSTO, DIA DE LAMMAS, É UM DOS
mais antigos festivais rurais da Inglaterra. A Julieta de Shakespeare tinha seu
aniversário comemorado "na noite da véspera de Lammas". Até hoje, Lammas
é um dos dias iniciais de trimestre no ano financeiro da Escócia. Lammas dá a
impressão de ter sua origem em alguma espécie de festival religioso, o nome
derivando de lamb (cordeiro) e mass (missa).
Na verdade, porém, sua origem se encontra
no ciclo anual anglo-saxão de lavoura e sobrevivência. "Dez horas de
escuridão, quatorze horas de luz do dia", registrou a contagem de horas
para agosto. Havia uma urgência inegável em cada hora de trabalho do mês, já
que a colheita do trigo era o fulcro da sobrevivência. Mais do que a
carne, o leite ou qualquer
outro tipo de vegetal, o pão era a base da sobrevivência para as pessoas no ano
1000. O pão dos primeiros tempos da Idade Média era redondo, tosco e achatado
pelos padrões modernos.
O glúten natural no pão de trigo era um
agente de "crescimento", que criava mais ar do que o pão feito com
centeio ou cevada. Mas é bem provável que já estivesse velho e duro quando a
maioria das pessoas o comia, já que fora das cidades e mosteiros havia bem
poucos padeiros especializados produzindo pão fresco todos os dias. Os
habitantes dos campos deviam comer normalmente um pão que já tinha uma semana
ou mais de fabricado. Amoleciam a casca ao mergulhá-la numa sopa de cereais e
legumes, quase com a consistência de mingau. na Inglaterra o trigo era o cereal
preferido, sendo a cevada considerada a segunda melhor opção. Os santos
demonstravam sua humildade ao comerem pão de cevada.
Uma hagiografia relata como o imperador
Juliano ofendeu-se quando São Basilio lhe ofereceu um pão de cevada. "A
cevada só serve para cavalos", declarou o imperador, indignado, oferecendo
em resposta ao santo uma porção de capim. Agosto era o mês em que as moscas
começavam a se tornar um problema, zumbindo em torno dos montes de estrume nos
cantos de cada terreiro de fazenda, pairando sobre as fossas abertas de dejetos
humanos que ficavam fora de cada casa. Se o final do século XX é impregnado
pelo vapor de gasolina dos canos de descarga, o ano 1000 era perfumado por
merda. bosta de porco e ovelha, cocô de galinha: cada variedade de excremento tinha
seu cheiro característico, da fragrância adocicada do animal que só comia
vegetais ao odor azedo dos que processavam carne, exigindo que o nariz humano
do ano 1000 funcionasse como um órgão muito menos afetado do que o nosso hoje.
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