Há modernos arqueólogos especializados
que estudam intensamente as excreções, vasculhando entre as fossas de povoados
antigos para descobrir detalhes fundamentais, como o fato de que o papel
higiênico do ano 1000 era musgo. As fezes humanas, por outro lado, não sobreviveram
muitas vezes de uma forma igualmente coesa, sugerindo que os intestinos do ano
1000 eram muito mais sujeitos a desarranjos do que hoje. Infecções intestinais
crônicas e uma dieta com um alto teor de vegetais são razões prováveis para
isso, embora a presença nas fossas de fragmentos de ossos animais e de espinhas
de aparência dolorosa de arenque, enguia e esgana-gato sugira que nossos
ancestrais eram bem providos de proteínas. A freqüência de caroços de maçã,
ameixa e cereja também sugere que os homens e as mulheres medievais, em matéria
de frutas, não deixavam escapar nada. Os monges tomavam o cuidado de situar
suas latrinas por cima de água corrente. Escolhiam posições para seus mosteiros
que lhes proporcionavam acesso a água potável não poluída dessa forma. Mas
poucas outras pessoas eram tão meticulosas. Tanto nas aldeias como nas cidades,
a latrina fica junto ou perto da porta dos fundos da maioria das casas, sem
qualquer preocupação com o cheiro... nem com as moscas, que tinham tão pouca
distância a percorrer dos excrementos para os alimentos que as pessoas comiam.
Não havia noção de como as doenças podem ser disseminadas pelas bactérias. A
pulga era um parasita com o qual as pessoas se mostravam menos tolerantes, já
que picava o anfitrião de uma maneira bastante desagradável.
Os remédios para lidar com esse estorvo eram muito
solicitados. Outro método era cobrir uma cama infestada de pulgas com peles de
ovelha. Assim, quando as pulgas saltassem, haveriam de se destacar escuras
contra o fundo branco. A esta altura, pode-se presumir, o caçador de pulgas
medieval avançaria com um porrete, um pano pesado ou o equivalente de um jornal
enrolado, a fim de executar a sentença de morte da pulga. Os regulamentos de um
mosteiro europeu do século X prescreviam cinco banhos para cada monge por ano,
mas isso era fanatismo pelos padrões anglo-saxões de higiene pessoal. Um
comentarista posterior escarneceu da prática dinamarquesa de tomar banho e
escovar os cabelos todos os sábados, mas admitiu que isso parecia aumentar as
chances dinamarquesas com as mulheres. Teto de colmo, paredes de material orgânico e chão de
terra batida da casa medieval ofereciam incontáveis refúgios para insetos e bactérias.
Não havia as modernas "superfícies funcionais" que pudessem ser lavadas
de uma maneira anti-séptica. Se algum alimento caía de seu prato, o conselho de
um documento contemporâneo era pegá-lo, fazer o sinal-da-cruz por cima, temperá-lo
bem... e depois comê-lo.84 O
sinal-da-cruz era o anti-séptico do ano 1000. Mas o crente no ano 1000 podia
apontar para a Bíblia, que relacionava nada menos de trinta e cinco milagres em
que Jesus derrotava a doença através do poder da fé. Aelfric descreveu a prova
concreta do toque curador de St. Swithin em Winchester, na proximidade do
milênio: "Havia muletas enfileiradas por toda a velha igreja (de uma
extremidade a outra, em todas as paredes), assim como bancos de aleijados que
haviam sido curados ali. Nem mesmo assim conseguiam pôr a metade de pé."
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