Na primavera de 1944, eu tinha 16 anos e vivia com meus pais e minhas
duas irmãs mais velhas em Kassa, na Hungria. Havia diversos sinais de
guerra e preconceito à nossa volta: as estrelas amarelas costuradas em
nossos casacos; os nazistas húngaros – os nylas – que ocuparam o nosso
antigo apartamento; as notícias dos jornais sobre as frentes de batalha e a
ocupação alemã que se espalhava por toda a Europa; os olhares
apreensivos que meus pais trocavam à mesa; o terrível dia em que fui
cortada da seleção de ginástica olímpica por ser judia. Felizmente, nessa
época, minhas únicas preocupações eram com as questões naturais da
adolescência. Estava apaixonada por meu primeiro namorado, Eric, um
garoto alto e inteligente que conheci no Clube do Livro. Eu reencenava
nosso primeiro beijo e me encantava com o vestido novo de seda azul
que meu pai tinha feito para mim. Era evidente o meu progresso no balé
e na ginástica olímpica, e eu brincava com Magda, minha linda irmã
mais velha, e com Klara, a irmã do meio, que estudava violino no
conservatório em Budapeste.
Então, de repente, tudo mudou.
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