domingo, 20 de fevereiro de 2011

um sorriso para uma vida inteira!

   Minha mãe me deu um presente quando eu era criança.
   Na época, tinha apenas 6 anos. Ela falou pra mim e meu irmão que passaríamos o dia na praia. Fiquei animada.
   A praia estava cheia.
   Avançamos para mais próximo da águae ali estendemos a manta. "Não chega a ser uma maravilha, mas tudo bem." Avaliou minha mãe.
   Logo passou passou um vendedor de sorvete.
   "Sorvete, pensei, aqui na praia!" Com minha mãe, era sempre melhor saber o preço antes de pedir. Corri atrás dele, desviando-me das pessoas e chutando a areia.
   - Quanto é, moço?
   - Para você, são só 30 centavos!
   Minha mãe nunca daria 3o centavos por um sorvete.
   Quando ergui os olhos, não vi nem sinal de minha mãe. Cada pessoa, cada manta ali eram diferentes. Eu procurava nas brechas entre elas. Mas não via meu irmão, nem minha mãe.
   Onde estavam? Eu poderia falar com um estranho, algo que ela tinha nos advertido para jamais fazer?
   Corri de uma manta a outra, as lágrimas pingando do rosto e os pés ardendo.
   De repente, vi-me numa escada, determinado a ficar ali. Alerta como sentinela. A idéia de nunca mais ver minha mãe, fazia meu peito arfar. Chorando, pensei: Mamãe, vou ser boazinha, se você vier me buscar."
   Então, vi, segurando a mão do Sam, com o rosto transtornado. "Mãe!" Berrei.
   Sua fisionomia dura e rígida, desapareceu. Ela me viu quando corri, e em seu rosto abriu-se um sorriso que jamais esqueci - um sorriso de pura alegria que lhe envolvia todo o corpo. "Até que enfim encontrei você", parecia dizer. Fiquei comovida por aquele sorriso materno, como ainda fico, passados tantos anos.
   Depois daquele dia, porém, houve cada vez menos motivos para ela sorrir. E eu estive entre os mais pesados fardos que ela carregou.
   Minha mãe nos criou da melhor maneira que pôde, fazendo biscates.
   Eu procurava a figura paterna e a encontrei na rua. Eu queria que me aceitassem.
   Um dia, entrei com um sujeito num carro roubado. Depois, num porão, dei uma longa e vertiginosa tragada num cigarro de maconha.
   Quando tinha 14 anos, um professor sentou-se na minha frente e à minha mãe à mesa da cozinha. "Ela não vai às aulas há mais de dois meses." Revelou.
   Um dia, pouco tempo depois, estava sentada na varanda com minha mãe quando dois policiais entraram no prédio vizinho e saíram com um garoto. Preso por roubo. A mãe logo atrás, de cabeça baixa.
   Minha mãe parecia à beira das lágrimas. depois, suspirou e disse, como se falasse para si mesma: "Deus pode ser cruel com as mães, atormetando-as com as idas e vindas dos filhos."
   Acabamos indo parar na vara de família por causa da minha vadiagem. Aos 15 anos larguei a escola. Várias vezes me embebedava e deixara o apartamento uma bagunça. Muitas vezes meu comportamento gerou angústias. Entretanto, ela sempre me amparava.
   Um dia, envolvi-me em uma briga. Dez de nós fomos presos. Minha mãe convenceu um advogado a aceitar minha causa sem remuneração. Ele disse ao Juiz que eu queria ser militar, e o juiz suspendeu as acusações.
   Entrei num mundo de responsabilidades. durante os três anos que presentei serviço militar, entendi que fora uma fonte de tristezas para minha mãe. Lembrava que toda semana apanhava na Biblioteca uma pilha de livros e lia para nós. Seus sentimentos eram simples na forma, porém, complexos e abrangentes na reflexão. "Lembre-se, falava, todos vão ter uma impressão melhor sobre você se estiver vestindo uma camisa limpa."
  Os anos passaram.
   Um dia, seria realizado o concurso para o Corpo de Bombeiros. Me inscrevi.
   - Boa sorte - Ela disse. Sempre dizia quando eu saía. Dessa vez, acrescentou: - E preste atenção.
   Prestei e, não muito tempo depois, estava prestando juramento dos Bombeiros. Minha mãe estava a algumas fileiras atrás. de vez em quando, me virava para dar uma piscadela. Cada um de nós, foi ao palco receber a insígnia.
   Quando voltei para o meu lugar, levantei o distintivo para ela ver. E aconteceu novamente - o maravilhoso sorriso de alegria. De novo o sorriso resplandescente de alívio envolveu seu corpo e, dessa vez, dizia:
"Até que enfim, você se encontrou."
   Por um instante parecia que ela jamais tivera decepções na vida.
   Houve outros dias de felicidade, mas não tornei a ver aquele sorriso, e acho que sei porquê.
   Sentada na platéia no dia que ingressei no Corpo de Bombeiros, ela percebeu que eu estava caminhando com equilíbrio. era o sorriso de uma vida, um sorriso que dizia: "Minha missão está cumprida."
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