sábado, 1 de agosto de 2015

Feliz Lammas



    

     PRIMEIRO DE AGOSTO, DIA DE LAMMAS, É UM DOS mais antigos festivais rurais da Inglaterra. A Julieta de Shakespeare tinha seu aniversário comemorado "na noite da véspera de Lammas". Até hoje, Lammas é um dos dias iniciais de trimestre no ano financeiro da Escócia. Lammas dá a impressão de ter sua origem em alguma espécie de festival religioso, o nome derivando de lamb (cordeiro) e mass (missa).
     Na verdade, porém, sua origem se encontra no ciclo anual anglo-saxão de lavoura e sobrevivência. "Dez horas de escuridão, quatorze horas de luz do dia", registrou a contagem de horas para agosto. Havia uma urgência inegável em cada hora de trabalho do mês, já que a colheita do trigo era o fulcro da sobrevivência. Mais do que a
carne, o leite ou qualquer outro tipo de vegetal, o pão era a base da sobrevivência para as pessoas no ano 1000. O pão dos primeiros tempos da Idade Média era redondo, tosco e achatado pelos padrões modernos.
      O glúten natural no pão de trigo era um agente de "crescimento", que criava mais ar do que o pão feito com centeio ou cevada. Mas é bem provável que já estivesse velho e duro quando a maioria das pessoas o comia, já que fora das cidades e mosteiros havia bem poucos padeiros especializados produzindo pão fresco todos os dias. Os habitantes dos campos deviam comer normalmente um pão que já tinha uma semana ou mais de fabricado. Amoleciam a casca ao mergulhá-la numa sopa de cereais e legumes, quase com a consistência de mingau. na Inglaterra o trigo era o cereal preferido, sendo a cevada considerada a segunda melhor opção. Os santos demonstravam sua humildade ao comerem pão de cevada.
      Uma hagiografia relata como o imperador Juliano ofendeu-se quando São Basilio lhe ofereceu um pão de cevada. "A cevada só serve para cavalos", declarou o imperador, indignado, oferecendo em resposta ao santo uma porção de capim. Agosto era o mês em que as moscas começavam a se tornar um problema, zumbindo em torno dos montes de estrume nos cantos de cada terreiro de fazenda, pairando sobre as fossas abertas de dejetos humanos que ficavam fora de cada casa. Se o final do século XX é impregnado pelo vapor de gasolina dos canos de descarga, o ano 1000 era perfumado por merda. bosta de porco e ovelha, cocô de galinha: cada variedade de excremento tinha seu cheiro característico, da fragrância adocicada do animal que só comia vegetais ao odor azedo dos que processavam carne, exigindo que o nariz humano do ano 1000 funcionasse como um órgão muito menos afetado do que o nosso hoje.

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