domingo, 2 de agosto de 2015

Pessoas do Séc. X




      Há modernos arqueólogos especializados que estudam intensamente as excreções, vasculhando entre as fossas de povoados antigos para descobrir detalhes fundamentais, como o fato de que o papel higiênico do ano 1000 era musgo. As fezes humanas, por outro lado, não sobreviveram muitas vezes de uma forma igualmente coesa, sugerindo que os intestinos do ano 1000 eram muito mais sujeitos a desarranjos do que hoje. Infecções intestinais crônicas e uma dieta com um alto teor de vegetais são razões prováveis para isso, embora a presença nas fossas de fragmentos de ossos animais e de espinhas de aparência dolorosa de arenque, enguia e esgana-gato sugira que nossos ancestrais eram bem providos de proteínas. A freqüência de caroços de maçã, ameixa e cereja também sugere que os homens e as mulheres medievais, em matéria de frutas, não deixavam escapar nada. Os monges tomavam o cuidado de situar suas latrinas por cima de água corrente. Escolhiam posições para seus mosteiros que lhes proporcionavam acesso a água potável não poluída dessa forma. Mas poucas outras pessoas eram tão meticulosas. Tanto nas aldeias como nas cidades, a latrina fica junto ou perto da porta dos fundos da maioria das casas, sem qualquer preocupação com o cheiro... nem com as moscas, que tinham tão pouca distância a percorrer dos excrementos para os alimentos que as pessoas comiam. Não havia noção de como as doenças podem ser disseminadas pelas bactérias. A pulga era um parasita com o qual as pessoas se mostravam menos tolerantes, já que picava o anfitrião de uma maneira bastante desagradável.
                Os remédios para lidar com esse estorvo eram muito solicitados. Outro método era cobrir uma cama infestada de pulgas com peles de ovelha. Assim, quando as pulgas saltassem, haveriam de se destacar escuras contra o fundo branco. A esta altura, pode-se presumir, o caçador de pulgas medieval avançaria com um porrete, um pano pesado ou o equivalente de um jornal enrolado, a fim de executar a sentença de morte da pulga. Os regulamentos de um mosteiro europeu do século X prescreviam cinco banhos para cada monge por ano, mas isso era fanatismo pelos padrões anglo-saxões de higiene pessoal. Um comentarista posterior escarneceu da prática dinamarquesa de tomar banho e escovar os cabelos todos os sábados, mas admitiu que isso parecia aumentar as chances dinamarquesas com as mulheres. Teto de colmo, paredes de material orgânico e chão de terra batida da casa medieval ofereciam incontáveis refúgios para insetos e bactérias. Não havia as modernas "superfícies funcionais" que pudessem ser lavadas de uma maneira anti-séptica. Se algum alimento caía de seu prato, o conselho de um documento contemporâneo era pegá-lo, fazer o sinal-da-cruz por cima, temperá-lo bem... e depois comê-lo.84  O sinal-da-cruz era o anti-séptico do ano 1000. Mas o crente no ano 1000 podia apontar para a Bíblia, que relacionava nada menos de trinta e cinco milagres em que Jesus derrotava a doença através do poder da fé. Aelfric descreveu a prova concreta do toque curador de St. Swithin em Winchester, na proximidade do milênio: "Havia muletas enfileiradas por toda a velha igreja (de uma extremidade a outra, em todas as paredes), assim como bancos de aleijados que haviam sido curados ali. Nem mesmo assim conseguiam pôr a metade de pé."

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